sábado, 7 de janeiro de 2012

Capítulo 5


Quando Luis desembarcou no aeroporto, seu amigo de infância não estava lá, assim como não esteve há quase dois anos quando ele partiu. Após tanto tempo longe, sentira falta de João de Castro e por diversas vezes lhe escrevera cartas que nunca retornaram. Neste período, João nunca as recebera, pois estava desde o terceiro mês internado no seminário como o preferido de padre Pietro, não só pela sua inteligência, dedicação e organização, mas porque o padre, um italiano de 40 anos, magro e forte todas as terças e quintas-feiras chamava João em seu quarto.
Era o menino entrar e ele trancava a porta. Deixava-o chupar como gostava de fazer, bem demoradamente, e em troca, padre Pietro lhe dava carinhos. João era insaciável e algumas vezes além de sentir jorrar-lhe a porra garganta abaixo fazia o padre penetrá-lo inteiro, num vai e vem lento que tanto lhe dava prazer.
Engana-se quem pensa que padre Pietro era um desses pedófilos que escutamos e lemos por aí. Nem João transava com o padre para obter nenhum privilégio no seminário. Eles se gostavam, cada um a seu modo. Padre Pietro tivera em João sua primeira relação sexual e, ainda que relutasse nos primeiros dias, a paixão que sentiu pelo menino foi devastadora. João de Castro tinha no padre tudo aquilo que sempre desejara: um homem que o amava e cuidava de si, nunca permitindo que o prazer do sexo fosse unilateral. Está aí mais uma prova de como a igreja católica parou no tempo e não aceita o amor entre duas pessoas, preferindo acreditar que o ser humano é capaz de sublimar todos os seus desejos em nome da fé.
Fosse o sexo uma coisa normal para os padres e não teríamos tantos casos chocantes de pedofilia. Afinal, o pobre homem procura o prazer no que lhe tem a mão, já que buscá-lo fora dali seria por em risco o seu futuro no sacerdócio.
Coincidentemente, a chegada de Luis Guimarães a São Paulo se deu exatamente no momento em que João de Castro seria ordenado padre e teria de sair definitivamente do seminário.
Luis fora recebido por seus pais e entrara no carro rumo a sua modesta casa na Zona Norte de São Paulo. João ia passar dois dias na casa de seus pais, mas como ninguém sabia, tomou sozinho o táxi. Quando os carros de ambos chegaram na Avenida Bras Leme, uma blitz mandou que eles descessem para averiguação. Uma blitz incomum para ambos, pois não eram policiais os que pediam os documentos de seus pais e do taxista, respectivamente, mas soldados do exército. Era 1º de abril de 1964 e os dois jovens, tão politizados nos seus tempos de escola não tinham ideia do que estava a acontecer. Desceram do carro e, apesar da brutalidade do soldado ao falar com as pessoas ali presentes, viram-se e ficaram paralisados. Um a olhar o outro vestidos de maneira muito diferentes das que conheciam. Olhavam e pareciam não ter certeza de ver quem viam. Um “padre” e um “europeu”. Duas pessoas novas, mas com tanta coisa vivida juntos.
João rapidamente voltou ao carro para não ser reconhecido pelos pais do amigo. Após alguns minutos de tensão ambos os carros foram liberados e logo estavam nas suas casas. João de Castro passou pela mãe tão rapidamente que não parecia que não se viam há quase dois anos. Foi direto ao telefone perguntar ao padre Pietro, tão envolvido na teologia da libertação, o que estava a acontecer. Padre Pietro desviou o assunto e rapidamente desligou a ligação.
-João, você mal falou comigo. Eu estou morrendo de saudades meu filho.
- Desculpe-me, mãe. É que fui parado numa blitz estranha na Bras Leme e queria saber do padre Pietro o que está acontecendo.
- E descobriu?
- Não. Este estava mais estranho ainda.
- Então descanse um pouco meu filho e venha comer um pedaço de bolo que eu fiz hoje. Aproveita para me contar o que você faz aqui e com essa mala?
Luis Guimarães chegou em casa e já partiu para o ataque. Tanto tempo em Moscou fora suficiente para saber que os milicos estavam aprontando. Deixou as malas em casa e foi à um telefone público, ligar para o contato de São Paulo que lhe passaram na União Soviética. Em pouco tempo soube do golpe e ficara duplamente indignado. Em primeiro lugar pelo golpe em si e depois ao saber que os “filhos da puta dos milicos” estavam chamando tudo de revolução.
E tinha razão Luis Guimarães em sua revolta, pois com o nome “revolução” os militares do golpe de 1964 no Brasil queriam lhe dar um caráter popular que este não tinha. Popular sim era o presidente deposto, João Goulart, que entre outras coisas anunciara que finalmente o Brasil faria sua reforma agrária. Faria, mas não vez. E sabe-se lá quando a fará.
Satisfeito com a conversa, o bolo e por rever a mãe, João foi a seu quarto e ligou o rádio. O telefone de sua casa tocou no mesmo instante em que ouvia sobre a prisão do “comunista” Padre Pietro acusado de subversão e ensinamento de práticas terroristas aos seus seminaristas. João respirou fundo e não suportando a pressão passou a socar a parede do quarto, mas antes que sua mão sangrasse por completo ouviu a mãe a chamar-lhe:
 - João, telefone pra você. É o Luis, seu amigo aqui da rua.  
Olá. Fala!
- Tudo bem João?
 -Tudo bem.
- Fiquei surpreso ao te ver la na blitz. Você virou padre?
- Ainda não. To pra ser ordenado.
- Senti sua falta.
Um longo silêncio tomou conta do telefone. Quiçá o mundo tenha parado nesse instante e só seria possível ouvir a batida acelerada do coração de João de Castro. Seu coração batia tão forte que a adrenalina liberada no corpo o fez relaxar os músculos e, logo em seguida, o cérebro.
- Queria te ver. Podemos?
- Sim. Onde?
- Meus pais vão sair daqui a pouco. Vem pra cá.
- Pode deixar.
- Mas sem batina, hein.
- Sim, sem batina.
Falou esta última frase “sim, sem batina” com um sorriso maroto no rosto. Sorriso este evidentemente percebido do outro lado da linha por Luis Guimarães.
Neste dia não conversaram. Quando João entrou na casa de Luis ambos se agarraram vorazmente. Seus corpos ardiam em febre. Nas veias de ambos corria sangue e adrenalina. E nesse frenesi treparam como nunca imaginaram fazer. Foi a primeira vez que João de Castro penetrou alguém. Padre Pietro já tentara ser o primeiro, mas João não conseguira. Agora nem pensou muito. Estava a engolir o pau de Luis e, de uma vez, desceu a língua metendo-a no cú do amigo. Aquilo o deixou de pau duro e na mesma posição em que estava Luis levantou suas pernas e o comeu todinho. Sem delicadeza, sem ternura, mas com força e vitalidade. Luis devia estar a pensar que João não trepara com ninguém desde a última vez que foderam, dada a ânsia que o amigo teve ao enrabá-lo. João não pensava em nada. Só queria foder aquele cuzinho quente de Luis e gozar dentro dele até a última gota de porra que tinha.
Chegou em casa cansado e foi dormir. Esquecera da prisão do padre Pietro, do tempo longe de casa, da noite não dormida ao olhar o teto do sítio de Luis, dos beijos mal dados em Clara Assunção e dos dias de depressão e angústia que passara com a ida de seu amigo a Moscou. Simplesmente dormia.
continua em breve

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Capitulo 4


Ainda atônito com o que ouviu após ter estado em puro êxtase, João de Castro voltou à sua cama. Deitou-se. Porém, não acreditava que na noite que seria a mais feliz da sua vida estava a sentir um vazio dentro do peito, como se nada mais de pior pudesse acontecer e o mundo inteiro estivesse paralisado. Cobriu-se com o lençol e ficou a olhar para o canto do teto. Apenas alguns segundos depois as lágrimas começaram a escorrer do seu rosto. Controlou-se o que pode para que Luis não percebesse, mas este já dormia e nada escutou.
No outro dia não voltaram ao assunto. Na realidade, nem conversaram e foram embora do sítio sem trocar uma palavra. Claro que os pais de Luis perceberam que algo estava estranho, mas, obviamente, resolveram não mexer no assunto.
A semana passou e Luis estava pronto para viajar. Seus vizinhos organizaram uma despedida na casa de um deles, mas João não apareceu. Clara não vira João desde a semana anterior e não conteve-se:
- Luis, o João não vem?
- Não sei. Parece que não.
- Aconteceu alguma coisa entre vocês?
- Ah Clara, não enche que eu to aqui pra me divertir.
No outro dia Luis foi embora e Clara foi procurar João. Os homens, com raras exceções, são mesmo estúpidos! Todos os amigos em comum de João e Luis não perceberam a ausência dele na festa, como também não perceberam o seu silêncio e o seu isolamento durante os últimos dias. Clara Assunção não precisou que ninguém dissesse nada e já sabia que entre os dois havia algum problema.
Quando chegou a casa de João recebeu da mãe do menino a notícia de que este estava a dormir desde a tarde anterior e achava melhor que Clara o procurasse no outro dia na escola. A menina aceitou contrariada a justificativa da mãe de João e esperou o dia seguinte. No entanto, João não foi à escola na segunda e nem na terça-feira. As sete da manhã de quarta, Clara ficou na porta da casa de João e viu quando este saiu normalmente com o uniforme e o material.
- Vais matar aula hoje de novo, João?
- Clara, você não devia...
- Me diz pra onde tu estás indo que eu vou junto.
- Ao Horto.
- Então vamos.
No caminho para o Horto Florestal João não disse nada. Claro que Clara Assunção tentou puxar assunto de diversas maneiras, mas ele limitava-se aos monossílabos sim e não. Caminharam bastante ao redor do lago, entraram por trilhas e quando pararam para descansar um pouco ela foi direto ao assunto.
- Sei que tu não estás bem e tenho a certeza de que algo aconteceu entre ti e o Luis. Seja o que for, saiba que eu to aqui pra te ajudar, João. Sei o quanto é difícil guardar algo que está nos fazendo mal, mas também sei que ao falar é como se uma tonelada fosse tirada...
João de Castro desabou. Chorava copiosamente, como a criança no colo da mãe a pedir o leite ou querendo dormir. Chorava tanto que já soluçava e mal conseguia respirar. Clara pegou no seus cabelos e com a outra mão pressionou o peito do amigo com movimentos circulares. Aos poucos João acalmou-se e Clara aproximou o seu rosto ao dele. Com pena do amigo deixou que seus lábios tocassem nos dele. Como João não reagiu, Clara passou a beijá-lo como desejara há muito.
O Horto Florestal encheu-se de vida. O céu abriu de repente e os pássaros começaram a cantar. Era a primavera que chegava no exato instante em que Clara Assunção e João de Castro beijavam-se pela primeira vez. Foi a primeira de um namoro que durou dois meses. João sentia-se bem ao lado dela. Era querido e amparado e Clara admirava a calma e o respeito que ele lhe oferecia. Em dois meses não teve nenhuma tentativa de avançar nas carícias e o fazia apenas quando ela o conduzia.
Tinham um relacionamento perfeito, pois ambos se faziam bem e nutriam respeito mútuo, nunca imaginado por nenhum dos dois numa relação com Luis Guimarães. Já diziam as gerações passadas: "por fora bela viola, por dentro pão bolorento". De fato, João se sentia bem ao lado de Clara, mas após dois meses percebera que o que nutria por ela não era paixão e desejo. Talvez um amor verdadeiro, mas destes que não são mais do que um amor de amigo e não de casal. Toda vez que Clara o beijava sentia um certo incômodo, como se não precisasse disso para continuar ao lado dela. Por duas vezes tentou terminar a relação para não iludi-la, mas não conseguia magoá-la desse jeito.
Uma noite, das muitas agitadas que teve enquanto dormia, sonhou que Luis e Clara discutiam, mas ele, João, via tudo de longe e não conseguia entender o que falavam. Via passar pela mão de ambos um porta retrato e a discussão acabou quando Luis arremessou-o ao chão. De repente os dois já não estavam mais lá e ele chegou perto do porta retrato. Ao pegá-lo do chão viu sua foto vestindo uma batina.
Acordou assustado, mas em seguida sentiu a paz e a tranquilidade que buscara desde a noite com Luis. Queria sentir aquilo sempre e, na manhã seguinte, anunciou a sua mãe: iria para um seminário.
É claro que não estamos aqui para estudar ou decifrar os sonhos de João de Castro. Mesmo porque o autor não se sente preparado para isso e sabe ter gente no mundo da psicologia muito mais capaz de tentar fazê-lo. O fato é que João se apegou a um sonho para fazer o que muitos de nós fazemos em situações emocionalmente difíceis: fugimos. Inventamos uma desculpa qualquer ou nos apegamos a pequenas coisas que nos permitam fazer o que nos parece ser a maneira mais simples de resolver tudo. E, é claro, a fuga nem sempre é física como a de João. Pode vir em diversas formas. Há mulheres que após perderem um filho prematuramente engravidam rapidamente para não ter de enfrentar a dor da perda. Existem pessoas que terminam um relacionamento por não quererem enfrentar os medos e a sua própria insegurança. Há aqueles que para não ter de enfrentar a rejeição preferem fugir do encontro que os levaria a conhecer o seu verdadeiro pai.
A fuga, muito provavelmente, é instintiva e não racional. Por isso mesmo, é muitas das vezes usada por nós, seres humanos. Mas, desejos e sentimentos não se apagam com o tempo. Não se vão com o sopro do vento ou a força da tempestade. Podem ficar escondidos , às vezes por um breve momento, as vezes por um longo tempo, mas eles voltam. E uma hora precisam ser enfrentados para serem resolvidos e para que possamos seguir em frente.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Capítulo 3


Foi o ano mais difícil até então na vida de João de Castro. Quase todos os dias Luis ia ao bar, bebia e chegava chorando na sua casa para desabafar. Para João isso tudo era um tormento, pois ao mesmo tempo que sabia ter com o amigo uma relação diferente dos meninos da sua idade ele não tinha coragem de tomar qualquer atitude que o levasse as vias de fato.
Seu desejo era reprimido pelo medo de perdê-lo. Ele acreditava que era melhor tê-lo ao seu lado a chorar nos seus ombros do que nunca mais poder conversar com Luis se este o rejeitasse. João foi levando aquela situação até onde pode. Desde que Clara Assunção os despertou para o que um representava ao outro, as intimidades já não eram as mesmas. Com 16 anos já não tomavam banho juntos nem dormiam na mesma cama. Certa vez, Luis convidou João para ir à um sítio com sua família. A noite, deitados em camas separadas João ficou a observar Luis.
Deitado ali ao seu lado, dormindo, Luis tinha a ternura e a singeleza de poucos meninos. João olhou seu rosto e ao ver a sua boca pequena mas rosada teve a sensação de ter os lábios úmidos de desejo e aquilo era bom. Viu como os seus braços já eram fortes e não mais braços de um menino. Braços de homem! Quando descia um pouco mais os olhos pelo corpo de Luis teve a sensação de vê-lo despertar. Rapidamente fechou os olhos e após uns instantes de silêncio voltou a abrí-los e viu que Luis virara para o outro lado da cama. Teria o amigo percebido que estava sendo observado? Sentiu o coração disparar e ficou angustiado por ter de esperar até o dia seguinte para ver qual seria a reação do outro. Nesta noite não dormiu. Ao amanhecer começou a relaxar e mal caiu no sono, ouviu a mãe do amigo a chamá-los para o café-da-manhã.
Mães, essas tristes senhoras, são capazes de perceber em um simples gesto ou jeito de falar as reais intenções de seus filhos. É verdade que nem sempre elas expõem-se e preferem fingir não ter percebido nada para que a situação fique como está e não piore. Elas costumam iludir-se que tudo é uma questão de tempo e que as coisas mudarão de uma hora para outra e, ao invés de conversarem com os filhos e tentarem entender a real situação para orientá-los e dar-lhes apoio, preferem o silêncio.
Era por isso que a mãe de Luis não gostava muito de João e tratava-o com desprezo e indiferença, como fez naquele café da manhã. Luis então, ao notar como sua mãe tratava o amigo, rapidamente passou a conversar com João.
- Você devia vir comigo um dia para ver. Os caras chegam na fábrica as seis da manhã e depois de trabalhar a manhã toda têm de comer farinha e feijão com a mão. Fico puto!
- Mas, se isso fosse tão ruim pra eles, Luis, eles fariam algo pra mudar, não?
- É exatamente sobre isso que tenho lhe dito João. Eles precisam fazer algo, mas ninguém toma a iniciativa.
Continuaram a conversar e embora o assunto realmente interessasse a João, este sentiu um alívio por ver que tudo estava normal entre eles. Fora tolice sua pensar que o amigo tinha visto algo. Enquanto jogavam bola no jardim, Luis falou-lhe que seu pai deixara que nesta noite eles fossem ao centro da cidade, na praça onde ficavam todos.
- Você tem de ver João, como tem gata nessa cidade!
Embora não quisesse ir, não iria negar nada a seu amigo e foram. Luis bebeu de tudo que encontrou: caipirinha, cerveja, vinho e até pinga pura. Quando o pai veio buscá-los, eles entraram no carro e tentaram disfarçar, mas o pai do menino percebeu e, ao contrário do que pensaram, achou engraçado o filho bêbado e perguntou aos dois quantas tinham beijado. Por sorte, só Luis falou das meninas que tinha conseguido e não precisaram contar ao pai dele que João ficara a noite toda só olhando para as pessoas.
Já de volta ao quarto do sítio os dois deitaram-se e João de Castro ía começar a dormir quando escutou o amigo a chorar.
- Ta tudo bem, Luis?
Ele não respondeu. Ao contrário, seu choro ficou ainda mais forte. João se levantou da cama e sentou ao seu lado.
- O que foi? Ta mal por causa da Clara ainda? Já faz um ano que vocês não estão juntos, esquece!
- Não é por causa dela não.
- E o que é então?
- Não sei te dizer. To sentindo uma dor no peito como se estivesse angustiado por algo, sabe?
- Ah, passa a mão nele assim, circularmente e...
Quando João tocou o peito do amigo e começou a falar, este segurou sua mão.
- Que foi, Luis?
Luis Guimarães abaixou o braço do amigo e começou a acariciar seus longos cabelos. Quando sua mão chegou a nuca de João ele o puxou contra seu rosto e o beijou. Um beijo intenso, mas lento. Beijavam-se com força, ora um tomando a iniciativa, ora o outro. João tirou a camisa do amigo e começou a passar a língua no seu pescoço e depois desceu-a até o bico do peito. Neste momento Luis soltou um gemido que foi rapidamente abafado pela mão de João. Com a língua foi acariciando todo o corpo do amigo, até que arrancou-lhe o short e começou a chupá-lo todo. Sentia todo o pau do menino dentro da boca a latejar de tesão. Luis o segurava pelos cabelos e quando pareceu-lhe não poder mais aguentar com a boca do amigo a chupar-lhe puxou-o para cima e o deitou de costas na cama. Arrancou a roupa de João e o penetrou. A dor que João sentiu naquele momento só não foi maior que o prazer de ter-lhe ali, como sempre imaginou. Luis agora não era mais terno. Ele segurava os cabelos do amigo e metia e tirava o pau dele com força, sem dó. Ao mesmo tempo mordia-lhe o pescoço e as costas e João nada dizia, apenas segurava com força no lençol e contorcia-se de dor e prazer. Luis tinha tanto desejo que logo anunciou que ia gozar, mas não demorou muito e estavam a gozar juntos: João de Castro no lençol e Luis Guimarães dentro do amigo.
Após alguns segundos apenas se olhando, Luis disse:
- Semana que vem viajo, por isso estava mal.
-Ué, mas viajar não tem nada demais.
- Não é uma viagem qualquer. Vou ficar pelo menos um ano em Moscou, num intercâmbio, e não queria ir embora sem que você soubesse que te queria, só que também não sabia como dizer, não tinha certeza até ontem a noite quando...
- Você tá de sacanagem Luis? Como assim, Moscou?
- Melhor a gente dormir antes que minha mãe perceba que estamos acordados. Vai pra sua cama.


domingo, 4 de dezembro de 2011

Capítulo 2



Aos treze anos, como fazem os meninos de treze anos, João de Castro trancava a porta de seu quarto e divertia-se imaginando Clara Assunção caminhando pelas ruas. Seu corpo de menina estava se transformando e imaginar o crescimento de seus peitos era algo que excitava João. Um dia resolveu contar o seu segredo a seu melhor amigo, Luis Guimarães, quando este declarou-se perdidamente apaixonado por Clara Assunção. João calou-se e durante dois anos ouvia seu amigo a chorar e a contar as brigas que os dois tinham ou, em outros momentos, esforçava-se por prestar atenção quando Luis descrevia os beijos e amassos que dava em Clara. O que ele queria era mandar calhar-lhe a boca e proibi-lo de entrar em detalhes de seu caso com ela. Mas ouvia-o, pois sabia que ao final Luis iria lhe pedir conselhos.
Certa vez a briga foi feia, daquelas que rompem o laço do respeito mútuo de um relacionamento. Luis descobrira, não se sabe como, que Clara estava interessada em João de Castro e exigira da namorada que nunca mais falasse com o seu amigo. Clara, indignada por ver o rapaz a proibir-lhe um sentimento, ainda que ela não pretendesse tomar qualquer atitude com relação a isso, soltou a frase fatal:
- Sabe Luis, não sei se quer isso por ciúmes de mim ou de João?
Foi o suficiente para tomar um bofetão daqueles que deixam a marca dos dedos no rosto por alguns segundos. Mas, mais que a marca no rosto, deixam feridas incuráveis na alma.
É claro que a atitude desmedida de Luis não era exatamente pelo que Clara disse, mas por temer que alguém soubesse o que ele sentia. Se bem que aos 15 anos nem Luis tinha ainda certeza de seus sentimentos pelo amigo João. Mas a afirmação feita assim, de sopetão, não podia gerar outra reação que não o tapa dado na sua garota. E, ainda que depois tenha se arrependido do gesto, pensou que se ela voltasse ao assunto reagiria assim novamente.
Diz-se que se não queres que se apercebam de algo, não toques no assunto, pois abrirá os olhos para ele. E, de fato, assim o é. A criança nunca ouviu falar em chocolate. Mas eis que alguém diz: - chocolate é uma delícia! E enquanto ela não provar do chocolate ela percebe toda vez que alguém o está a comer.
Na escola, o adolescente aprende a fazer porcentagem e só então começa a perceber que na internet, nos jornais, nos anúncios e outdores muitos valores estão em números percentuais.
E assim é com tudo. Com as relações humanas não seria diferente. Quando Luis foi contar a João o que tinha acontecido, lá estava o amigo a ouvir. Bem sabemos nós que querer ele não queria, mas se esforçava mais uma vez para realizar sua tarefa de melhor amigo. No momento em que ouviu seu nome no assunto, arregalou o olho e, se apercebendo da estranha reação, controlou-se para não ser flagrado.
Mas, ao ouvir de Luis Guimarães, seu melhor amigo desde criança a frase: -"E acredita que ela disse que na verdade eu estava com ciúmes de você e não dela?" sentiu como se uma bomba tivesse caído perto de si. Aos 15 anos todo assunto tem uma dimensão muito maior do que realmente é e se o assunto diz respeito aos sentimentos então…
Os dois deram um riso tímido, tentando deixar a situação menos tensa. Doce ilusão, pois deste momento em diante tudo mudou na amizade dos dois. Não que eles quisessem que algo mudasse, mas o fato de ouvir que um tinha ciúmes do outro fez com que os dois passassem a perceber que entre eles alguns gestos de carinhos não eram comuns nos demais garotos da rua onde moravam.
Nenhum colega, ao que se saiba, tomava banho com outro e, ao invés de jogarem-se água fria e inundar o banheiro como detestam todas as mães que sabem a situação caótica que encontrarão depois dos filhos lavados, ficava a observar o corpo do outro e a fazer comentários das mudanças tais como os pelos que começavam a crescer nas partes íntimas ou o peito que agora estava mais rígido e definido.
Ou, quando um dormia na casa do outro, como fazem muitos adolescentes, não era comum aos outros que durante a noite ambos, fingido dormir, se tocassem em partes íntimas e sentissem prazer com aquilo.
Coisas que para eles era natural antes de Clara Assunção dizer o que disse, mas que já não o era mais. Passado alguns dias, Clara e Luis voltaram a namorar, mas depois do que houve o namoro durou mais alguns dias e terminou de vez.



segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Capítulo 1


- Acaba logo com ele! Apaga ele de uma vez que esse traíra não tem perdão.
Todos os que estavam por perto tinham a certeza de que Luis dizia a verdade sobre a traição de seu amigo de infância, João de Castro. Afinal, os dois sempre foram tão unidos que seria impossível Luis estar errado sobre as acusações postas.
As palavras às vezes teêm esse poder. Não são poucos os exemplos de frases ditas no impulso da raiva ou mesmo no calor de uma paixão desenfreada que não passam de palavras ao vento. Palavras, palavras, palavras.
Mesmo num discurso, onde elas normalmente estão bem postas, com ideias e ideologias muito bem fundamentadas, elas não passam disso: palavras.
No entanto, as palavras, como neste caso, podem nos enganar, e naquela tarde chuvosa de julho estavam a enganar toda a gente presente, os vizinhos e os colegas de anos que não podiam deixar a traição de João de Castro impune.
Somente João sabia o que mais ninguém, além de Luis sabia: aquelas não eram palavras reais. O ódio era real. A raiva e o desejo de matá-lo que ele via claramente nos olhos do seu amigo estavam ali, mas as razões e os desejos escondidos nas palavras só ele via, mais ninguém.
Talvez Clara se ali estivesse soubesse da verdade. Justamente ela, tantas vezes usada pelos dois para se atacarem e se provocarem, seria a única capaz de compreendê-lo. Clara conhecia bem à Luis. Mas, verdade seja dita, o Luis que Clara conhecia era o “rapaz ingênuo e romântico que tu eras antes de entrar para a luta armada”
João nem pensava nisso, porque tinha a certeza de que ela ali não apareceria até que Luis apertasse o gatilho de duplo alvo, pois no momento em que seu amigo lhe tirasse a vida, estaria também a cometer suicídio. Não é possível viver por muito tempo a ter a consciência a cobrar-lhe o preço pelo desejo reprimido e oprimido.
Ajoelhado na calçada, a ter a correr pelos joelhos a água da chuva forte, por um instante, ele se arrependeu de também ter sido fraco. De ter-se deixado reprimir e de ter escamoteado o amor que lhe tinha para nos braços e boca de Clara Assunção provocar tamanho ódio como o visto nesta cena.
Com os olhos fechados de pavor, lembrou da última vez que a beijou. A última vez também foi a primeira a despertar-lhe o desejo. A primeira de tantas vezes que de fato sentiu seu cheiro e seus os lábios delicados de garota a arrepiar-lhe e a enrijecê-lo como nunca antes acontecera. João de Castro desde pequeno esperava por aquele momento, mas pouco tempo depois de ficar amigo de Luis, a vontade de beijar Clara passara.