Quando
Luis desembarcou no aeroporto, seu amigo de infância não estava lá,
assim como não esteve há quase dois anos quando ele partiu. Após
tanto tempo longe, sentira falta de João de Castro e por diversas
vezes lhe escrevera cartas que nunca retornaram. Neste período, João
nunca as recebera, pois estava desde o terceiro mês internado no
seminário como o preferido de padre Pietro, não só pela sua
inteligência, dedicação e organização, mas porque o padre, um
italiano de 40 anos, magro e forte todas as terças e quintas-feiras
chamava João em seu quarto.
Era
o menino entrar e ele trancava a porta. Deixava-o chupar como
gostava de fazer, bem demoradamente, e em troca, padre Pietro lhe
dava carinhos. João era insaciável e algumas vezes além de sentir
jorrar-lhe a porra garganta abaixo fazia o padre penetrá-lo inteiro,
num vai e vem lento que tanto lhe dava prazer.
Engana-se
quem pensa que padre Pietro era um desses pedófilos que escutamos e
lemos por aí. Nem João transava com o padre para obter nenhum
privilégio no seminário. Eles se gostavam, cada um a seu modo.
Padre Pietro tivera em João sua primeira relação sexual e, ainda
que relutasse nos primeiros dias, a paixão que sentiu pelo menino
foi devastadora. João de Castro tinha no padre tudo aquilo que
sempre desejara: um homem que o amava e cuidava de si, nunca
permitindo que o prazer do sexo fosse unilateral. Está aí mais uma
prova de como a igreja católica parou no tempo e não aceita o amor
entre duas pessoas, preferindo acreditar que o ser humano é capaz de
sublimar todos os seus desejos em nome da fé.
Fosse
o sexo uma coisa normal para os padres e não teríamos tantos casos
chocantes de pedofilia. Afinal, o pobre homem procura o prazer no que
lhe tem a mão, já que buscá-lo fora dali seria por em risco o seu
futuro no sacerdócio.
Coincidentemente,
a chegada de Luis Guimarães a São Paulo se deu exatamente no
momento em que João de Castro seria ordenado padre e teria de sair
definitivamente do seminário.
Luis
fora recebido por seus pais e entrara no carro rumo a sua modesta
casa na Zona Norte de São Paulo. João ia passar dois dias na casa
de seus pais, mas como ninguém sabia, tomou sozinho o táxi. Quando
os carros de ambos chegaram na Avenida Bras Leme, uma blitz mandou
que eles descessem para averiguação. Uma blitz incomum para ambos,
pois não eram policiais os que pediam os documentos de seus pais e
do taxista, respectivamente, mas soldados do exército. Era 1º de
abril de 1964 e os dois jovens, tão politizados nos seus tempos de
escola não tinham ideia do que estava a acontecer. Desceram do carro
e, apesar da brutalidade do soldado ao falar com as pessoas ali
presentes, viram-se e ficaram paralisados. Um a olhar o outro
vestidos de maneira muito diferentes das que conheciam. Olhavam e
pareciam não ter certeza de ver quem viam. Um “padre” e um
“europeu”. Duas pessoas novas, mas com tanta coisa vivida juntos.
João
rapidamente voltou ao carro para não ser reconhecido pelos pais do
amigo. Após alguns minutos de tensão ambos os carros foram
liberados e logo estavam nas suas casas. João de Castro passou pela
mãe tão rapidamente que não parecia que não se viam há quase
dois anos. Foi direto ao telefone perguntar ao padre Pietro, tão
envolvido na teologia da libertação, o que estava a acontecer.
Padre Pietro desviou o assunto e rapidamente desligou a ligação.
-João,
você mal falou comigo. Eu estou morrendo de saudades meu filho.
-
Desculpe-me, mãe. É que fui parado numa blitz estranha na Bras Leme
e queria saber do padre Pietro o que está acontecendo.
- E
descobriu?
- Não.
Este estava mais estranho ainda.
- Então
descanse um pouco meu filho e venha comer um pedaço de bolo que eu
fiz hoje. Aproveita para me contar o que você faz aqui e com essa
mala?
Luis
Guimarães chegou em casa e já partiu para o ataque. Tanto tempo em
Moscou fora suficiente para saber que os milicos estavam aprontando.
Deixou as malas em casa e foi à um telefone público, ligar para o
contato de São Paulo que lhe passaram na União Soviética. Em pouco
tempo soube do golpe e ficara duplamente indignado. Em primeiro lugar
pelo golpe em si e depois ao saber que os “filhos da puta dos
milicos” estavam chamando tudo de revolução.
E
tinha razão Luis Guimarães em sua revolta, pois com o nome
“revolução” os militares do golpe de 1964 no Brasil queriam lhe
dar um caráter popular que este não tinha. Popular sim era o
presidente deposto, João Goulart, que entre outras coisas anunciara
que finalmente o Brasil faria sua reforma agrária. Faria, mas não
vez. E sabe-se lá quando a fará.
Satisfeito
com a conversa, o bolo e por rever a mãe, João foi a seu quarto e
ligou o rádio. O telefone de sua casa tocou no mesmo instante em que
ouvia sobre a prisão do “comunista” Padre Pietro acusado de
subversão e ensinamento de práticas terroristas aos seus
seminaristas. João respirou fundo e não suportando a pressão
passou a socar a parede do quarto, mas antes que sua mão sangrasse
por completo ouviu a mãe a chamar-lhe:
- João,
telefone pra você. É o Luis, seu amigo aqui da rua.
- Olá.
Fala!
- Tudo
bem João?
-Tudo
bem.
- Fiquei
surpreso ao te ver la na blitz. Você virou padre?
- Ainda
não. To pra ser ordenado.
- Senti
sua falta.
Um
longo silêncio tomou conta do telefone. Quiçá o mundo tenha parado
nesse instante e só seria possível ouvir a batida acelerada do
coração de João de Castro. Seu coração batia tão forte que a
adrenalina liberada no corpo o fez relaxar os músculos e, logo em
seguida, o cérebro.
- Queria
te ver. Podemos?
- Sim.
Onde?
- Meus
pais vão sair daqui a pouco. Vem pra cá.
- Pode
deixar.
- Mas
sem batina, hein.
- Sim,
sem batina.
Falou
esta última frase “sim, sem batina” com um sorriso maroto no
rosto. Sorriso este evidentemente percebido do outro lado da linha
por Luis Guimarães.
Neste
dia não conversaram. Quando João entrou na casa de Luis ambos se
agarraram vorazmente. Seus corpos ardiam em febre. Nas veias de ambos
corria sangue e adrenalina. E nesse frenesi treparam como nunca
imaginaram fazer. Foi a primeira vez que João de Castro penetrou
alguém. Padre Pietro já tentara ser o primeiro, mas João não
conseguira. Agora nem pensou muito. Estava a engolir o pau de Luis e,
de uma vez, desceu a língua metendo-a no cú do amigo. Aquilo o
deixou de pau duro e na mesma posição em que estava Luis levantou
suas pernas e o comeu todinho. Sem delicadeza, sem ternura, mas com
força e vitalidade. Luis devia estar a pensar que João não trepara
com ninguém desde a última vez que foderam, dada a ânsia que o
amigo teve ao enrabá-lo. João não pensava em nada. Só queria
foder aquele cuzinho quente de Luis e gozar dentro dele até a última
gota de porra que tinha.
Chegou
em casa cansado e foi dormir. Esquecera da prisão do padre Pietro,
do tempo longe de casa, da noite não dormida ao olhar o teto do
sítio de Luis, dos beijos mal dados em Clara Assunção e dos dias
de depressão e angústia que passara com a ida de seu amigo a
Moscou. Simplesmente dormia.
continua em breve