sábado, 7 de janeiro de 2012

Capítulo 5


Quando Luis desembarcou no aeroporto, seu amigo de infância não estava lá, assim como não esteve há quase dois anos quando ele partiu. Após tanto tempo longe, sentira falta de João de Castro e por diversas vezes lhe escrevera cartas que nunca retornaram. Neste período, João nunca as recebera, pois estava desde o terceiro mês internado no seminário como o preferido de padre Pietro, não só pela sua inteligência, dedicação e organização, mas porque o padre, um italiano de 40 anos, magro e forte todas as terças e quintas-feiras chamava João em seu quarto.
Era o menino entrar e ele trancava a porta. Deixava-o chupar como gostava de fazer, bem demoradamente, e em troca, padre Pietro lhe dava carinhos. João era insaciável e algumas vezes além de sentir jorrar-lhe a porra garganta abaixo fazia o padre penetrá-lo inteiro, num vai e vem lento que tanto lhe dava prazer.
Engana-se quem pensa que padre Pietro era um desses pedófilos que escutamos e lemos por aí. Nem João transava com o padre para obter nenhum privilégio no seminário. Eles se gostavam, cada um a seu modo. Padre Pietro tivera em João sua primeira relação sexual e, ainda que relutasse nos primeiros dias, a paixão que sentiu pelo menino foi devastadora. João de Castro tinha no padre tudo aquilo que sempre desejara: um homem que o amava e cuidava de si, nunca permitindo que o prazer do sexo fosse unilateral. Está aí mais uma prova de como a igreja católica parou no tempo e não aceita o amor entre duas pessoas, preferindo acreditar que o ser humano é capaz de sublimar todos os seus desejos em nome da fé.
Fosse o sexo uma coisa normal para os padres e não teríamos tantos casos chocantes de pedofilia. Afinal, o pobre homem procura o prazer no que lhe tem a mão, já que buscá-lo fora dali seria por em risco o seu futuro no sacerdócio.
Coincidentemente, a chegada de Luis Guimarães a São Paulo se deu exatamente no momento em que João de Castro seria ordenado padre e teria de sair definitivamente do seminário.
Luis fora recebido por seus pais e entrara no carro rumo a sua modesta casa na Zona Norte de São Paulo. João ia passar dois dias na casa de seus pais, mas como ninguém sabia, tomou sozinho o táxi. Quando os carros de ambos chegaram na Avenida Bras Leme, uma blitz mandou que eles descessem para averiguação. Uma blitz incomum para ambos, pois não eram policiais os que pediam os documentos de seus pais e do taxista, respectivamente, mas soldados do exército. Era 1º de abril de 1964 e os dois jovens, tão politizados nos seus tempos de escola não tinham ideia do que estava a acontecer. Desceram do carro e, apesar da brutalidade do soldado ao falar com as pessoas ali presentes, viram-se e ficaram paralisados. Um a olhar o outro vestidos de maneira muito diferentes das que conheciam. Olhavam e pareciam não ter certeza de ver quem viam. Um “padre” e um “europeu”. Duas pessoas novas, mas com tanta coisa vivida juntos.
João rapidamente voltou ao carro para não ser reconhecido pelos pais do amigo. Após alguns minutos de tensão ambos os carros foram liberados e logo estavam nas suas casas. João de Castro passou pela mãe tão rapidamente que não parecia que não se viam há quase dois anos. Foi direto ao telefone perguntar ao padre Pietro, tão envolvido na teologia da libertação, o que estava a acontecer. Padre Pietro desviou o assunto e rapidamente desligou a ligação.
-João, você mal falou comigo. Eu estou morrendo de saudades meu filho.
- Desculpe-me, mãe. É que fui parado numa blitz estranha na Bras Leme e queria saber do padre Pietro o que está acontecendo.
- E descobriu?
- Não. Este estava mais estranho ainda.
- Então descanse um pouco meu filho e venha comer um pedaço de bolo que eu fiz hoje. Aproveita para me contar o que você faz aqui e com essa mala?
Luis Guimarães chegou em casa e já partiu para o ataque. Tanto tempo em Moscou fora suficiente para saber que os milicos estavam aprontando. Deixou as malas em casa e foi à um telefone público, ligar para o contato de São Paulo que lhe passaram na União Soviética. Em pouco tempo soube do golpe e ficara duplamente indignado. Em primeiro lugar pelo golpe em si e depois ao saber que os “filhos da puta dos milicos” estavam chamando tudo de revolução.
E tinha razão Luis Guimarães em sua revolta, pois com o nome “revolução” os militares do golpe de 1964 no Brasil queriam lhe dar um caráter popular que este não tinha. Popular sim era o presidente deposto, João Goulart, que entre outras coisas anunciara que finalmente o Brasil faria sua reforma agrária. Faria, mas não vez. E sabe-se lá quando a fará.
Satisfeito com a conversa, o bolo e por rever a mãe, João foi a seu quarto e ligou o rádio. O telefone de sua casa tocou no mesmo instante em que ouvia sobre a prisão do “comunista” Padre Pietro acusado de subversão e ensinamento de práticas terroristas aos seus seminaristas. João respirou fundo e não suportando a pressão passou a socar a parede do quarto, mas antes que sua mão sangrasse por completo ouviu a mãe a chamar-lhe:
 - João, telefone pra você. É o Luis, seu amigo aqui da rua.  
Olá. Fala!
- Tudo bem João?
 -Tudo bem.
- Fiquei surpreso ao te ver la na blitz. Você virou padre?
- Ainda não. To pra ser ordenado.
- Senti sua falta.
Um longo silêncio tomou conta do telefone. Quiçá o mundo tenha parado nesse instante e só seria possível ouvir a batida acelerada do coração de João de Castro. Seu coração batia tão forte que a adrenalina liberada no corpo o fez relaxar os músculos e, logo em seguida, o cérebro.
- Queria te ver. Podemos?
- Sim. Onde?
- Meus pais vão sair daqui a pouco. Vem pra cá.
- Pode deixar.
- Mas sem batina, hein.
- Sim, sem batina.
Falou esta última frase “sim, sem batina” com um sorriso maroto no rosto. Sorriso este evidentemente percebido do outro lado da linha por Luis Guimarães.
Neste dia não conversaram. Quando João entrou na casa de Luis ambos se agarraram vorazmente. Seus corpos ardiam em febre. Nas veias de ambos corria sangue e adrenalina. E nesse frenesi treparam como nunca imaginaram fazer. Foi a primeira vez que João de Castro penetrou alguém. Padre Pietro já tentara ser o primeiro, mas João não conseguira. Agora nem pensou muito. Estava a engolir o pau de Luis e, de uma vez, desceu a língua metendo-a no cú do amigo. Aquilo o deixou de pau duro e na mesma posição em que estava Luis levantou suas pernas e o comeu todinho. Sem delicadeza, sem ternura, mas com força e vitalidade. Luis devia estar a pensar que João não trepara com ninguém desde a última vez que foderam, dada a ânsia que o amigo teve ao enrabá-lo. João não pensava em nada. Só queria foder aquele cuzinho quente de Luis e gozar dentro dele até a última gota de porra que tinha.
Chegou em casa cansado e foi dormir. Esquecera da prisão do padre Pietro, do tempo longe de casa, da noite não dormida ao olhar o teto do sítio de Luis, dos beijos mal dados em Clara Assunção e dos dias de depressão e angústia que passara com a ida de seu amigo a Moscou. Simplesmente dormia.
continua em breve

Nenhum comentário:

Postar um comentário